O ano de 1998, um acidente de mota mudou a minha vida para sempre. Na altura tinha apenas 16 anos e era um jovem com a vida toda pela frente. Nos primeiros anos após o desastre não tinha bem a noção das condicionantes e do que a minha deficiência implicava.

Foi um caminho de descoberta que tive de percorrer. Sempre procurei ter e criar ferramentas que me garantissem a máxima independência. No entanto, foi bastante difícil pois no início não era nada autónomo no controlo do computador, estava sempre dependente de outros para escrever, para fazer os trabalhos da universidade, entre tantas outras tarefas.

Para além dos estudos tinha também de conciliar o meu tempo com muita fisioterapia.

Felizmente, graças ao apoio de toda a minha família e amigos mais próximos, fui sempre estimulado e acompanhado para fazer mais e melhor.

Neste percurso lembro-me bem da falta de informação e do desconhecimento da nossa sociedade no que toca à inclusão das pessoas com deficiência. Existia muito pouca informação sobre o tipo de apoios que o nosso Estado disponibiliza, poucas ferramentas no acesso ao computador e aos meios informáticos, o acesso ao desporto e ao mercado de trabalho era muito reduzido mesmo, entre outros variadíssimos temas.

Só com muita vontade e persistência é que é possível alcançarmos os nossos objetivos e, na área da deficiência, isto ainda é mais evidente. Admiro muito a força e o trabalho do Pedro e do Carlos com a criação da plataforma Tecla3.

Esta oferece um serviço de informação muito credível e já testado que pode facilitar a vida de muitas pessoas com limitações. Tem muita informação que dá mais independência e capacita as pessoas na realização dos seus objetivos. São ferramentas e informações essenciais para uma maior e melhor integração de todas as pessoas com deficiência na nossa sociedade.

Infelizmente, o nível de escolaridade e de formação destas pessoas em Portugal ainda é muito baixo. E por esta razão temos uma das mais altas taxas de desemprego a nível europeu. Nos últimos tempos foram criadas algumas medidas de apoio para uma melhor inclusão no mercado de trabalho mas ainda há muito a fazer, sobretudo na área das acessibilidades e dos transportes.

A Associação Salvador desenvolveu um Manual para Pessoas com Deficiência Motora que contém uma vasta informação sobre os nossos direitos e apoios que complementam os temas abordados pelo Tecla3, o manual está disponível no site bem como outros serviços de apoio à pessoas com deficiência.

O Tecla3 é um excelente exemplo que pode contribuir de forma decisiva para esta mudança. No meu entender, a vida das pessoas com deficiência só vai melhorar, se forem elas próprias e as suas famílias a lutar por isso. Nós temos de conhecer melhor os nossos direitos e fazer-nos valer pelos nossos talentos e capacidades.

Salvador Mendes de Almeida